burning questions

  • autoria: Margaret Atwood
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆ + ❤

    não queria ter terminado esse livro porque minha vontade era fofocar com minha amiga Peggy um pouquinho por dia pra sempre. vim lendo nos intervalos de estudos & trabalho desde março, como quem mata tempo com uma colega querida no corredor da firma num bate-papo cheio de obsessões & aleatoriedades, com ela me dizendo: amigaaaaaaa viu esse livro/filme/morto famoso/noticiário sinistro/passarinho engraçado/assunto pesado/descoberta bizarra/etc.? & eu respondendo: miga sua loka, me conta tuuuudo.

    esse volume reúne textos publicados pela Atwood entre 2004 e 2021, que vão desde ensaios mais formais, passando por resenhas de filmes, introduções a livros, palestras, obituários & artigos de opinião. é uma delícia acompanhar ela falando sobre pessoas que admira, como a bióloga Rachel Carson & o jornalista Ryszard Kapuściński; sobre filmes & livros sortidos, como Anne of Green Gables & The illustrated man; sobre escritoras maravilhosas como Ursula K. Leguin & Alice Munro; sobre o que é escrever & como ela entende o poder na narrativa; mas também sobre zumbis, tarot, #metoo, bíblia, pássaros, previsões para o futuro, engenharia genética, tradução, política, aborto, envelhecer, etc.

    concordo com tudo que ela diz? claro que não. não faço isso nem com as minhas amigas de carne-e-osso com quem eu divido uma realidade muito palpável, quanto mais com uma canadense com a idade da minha avó & que escreve & publica as próprias opiniões desde antes da minha mãe nascer. mas, ainda assim, a Atwood é uma das pessoas que eu mais admiro. o olhar que ela tem sobre o mundo é um que eu também tento ter, em que não existe caminho pré-estabelecido, em que a natureza está imbricada nas decisões mais íntimas, em que escrever é visitar o mundo dos mortos, em que não existe utopia sem distopia nem distopia sem utopia, em que a gente pode ser herói & vilão & vítima de uma vez. além disso, ela é muito, muito, muito engraçada, & várias vezes me peguei rindo alto das piadocas que ela faz. quem não quer ter uma amiga assim, engraçadona & culta & barraqueira?

    muitos dos textos reunidos nessa edição estão online, então deixo de presente essa listinha, pra quem quiser ficar mais íntimo dessa minha parça também:

  • Don't tell us what to write - uma defesa de que os escritores podem, mas não devem escrever sobre Causas Honradas.
  • Rachel Carson's Silent Spring, 50 years on - ou porque "Saint Rachel" está no panteão da galerinha ecorreligiosa da trilogia Maddaddam.
  • Greetings, Earthlings! What are these human rights of which you speak? - vídeo da palestra impagável que ela fez sobre direitos humanos, do ponto de vista de um alienígena curioso.
  • The Writing of Testaments - vídeo do discurso dela quando recebeu o prêmio Belle van Zuylenlezing em 2020. revolução francesa! direitos das mulheres! o conto da aia!
  • Inseparable - introdução para a tradução para o inglês de As inseparáveis, romance da Simone de Beauvoir que só foi publicado em 2021.
  • Caught in time’s current - um dos últimos textos do livro, sobre envelhecer, poesia & luto (o companheiro da Atwood por mais de 40 anos, Graeme Gibson, faleceu durante a turnê de lançamento do The testaments). esse link inclui o áudio dela lendo o poema Dearly

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