kentukis

  • autoria: Samanta Schweblin
  • tradução: Livia Deorsola
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆ + 🗣

    imagine que é possível ter um bichinho de pelúcia (um kentuki) que será aleatoriamente conectado com alguma outra pessoa ao redor do mundo. essa pessoa vai poder te ver & ouvir através do bicho, mas não terá como se comunicar. um público cativo & silencioso. você também pode optar por ser um kentuki & habitar um bichinho de pelúcia em algum lugar qualquer, pra espiar & rondar pela casa alheia. e aí, você preferiria ser ou ter um kentuki? é essa a premissa tão simples quanto genial que move Kentukis na velocidade da luz. como bem apontou minha amiga genial©, esse é um livro que você não precisa passar da primeira página pra saber que é ótimo, não tem tempo nenhum de aquecimento: já começa a milhão, em chamas, entre gritos.

    antes dele, tinha lido & curtido os dois livros da Schweblin publicados no Brasil, Distância de resgate e Pássaros na boca, que também são perturbadores, complexos & curtinhos. mas a lindeza (sinistra) deles não tinha me preparado pra maravilha que é Kentukis. comecei a ler ontem & me desesperei, porque sabia que as chances de terminar aquelas 189 páginas numa sentada eram enormes. inventei vários lero-leros pra conseguir arrastar a leitura em dois dias, gente. foi difícil.

    queria conviver com os personagens por mais tempo: uma senhorinha no Peru que é kentuki de uma moça na Alemanha, um pai italiano recém-divorciado que tem um kentuki pra ajudar na criação do filho, um empreendedor espertinho na Croácia que revende conexões... e mais, muito mais. tem retiro de artistas, sequestro, ioga, família, morte, peitos de fora, neve, horta, tortas de chocolate, escadas, nota baixa, ciúmes, o escambáu. os capítulos são flashes das vidas de quem topa ser/ter um kentuki, com todos os riscos, as delícias, os horrores, as possibilidades de conexão & desconexão que a tecnologia oferece.

    fiquei aqui pensando que pra mim a escolha seria óbvia: queria ser um kentuki & ficar bisbilhotando a vida alheia (amo livros de cartas, diários, biografias, twitter fechado, melhores amigos no insta etc.). quem é que em sã consciência ia abrir a casa pra um desconhecido espionar? mas aí me toquei que é exatamente isso que a gente faz nas redes sociais, né? abre a porta pra um monte de kentuki aleatório espiar, porque queremos a atenção, a companhia, a sensação de relevância. claro que eu escolho o que posto, o que dá mais controle do que ter um coelho ou dragão ou panda ou toupeira literalmente rondando aos meus pés, mas ainda assim. ora ora ora: na escolha entre ser ou ter um kentuki, todos somos & temos. outra coisa que fiquei pensando é que Kentukis daria uma mini-série maravilhosa, porque além de ter todas essas camadas de reflexão & metáforas, as narrativas são absurdamente envolventes & um casting global não faria mal a ninguém... ai ai, amei odiar/ter pena de todo mundo.

    pra fechar: quer ler uma coisa incrível, mas não tem muito tempo e/ou paciência? corre aqui! 5/5, berro, nunca mais durmo com o celular na cama, adesivinho em cima da câmera do laptop etc.


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