
pensa numa comédia romântica fofa & queer, com viagem no tempo & panquecas abundantes & mistérios de desaparecimento & trilha sonora dos anos '70 & pegação no metrô. então. é esse livro.
cheguei nele por indicação do querido GH, tradutor de best-sellers LGBTQIA+ (como Vermelho, branco e sangue azul & Estranhos no paraíso & Heartstopper) & amigo de tempos (quase) imemoriais, que me disse que, na cabeça dele, a protagonista era basicamente eu com vinte poucos anos (& ele sabe, pois Testemunhou). então desculpa qualquer coisa, mas a criatura bissexual de coque preso com lápis, óculos engordurado, dificuldade de pedir ajuda, quarto virado em caixa de papelão & cheiro de comida permanente soy yo hahhahah.
pois então. no livro,
- Não tem nada de errado em ficar sozinho. Muitas pessoas são mais felizes assim. Muitas pessoas nasceram pra ser assim. Mas não acho que você vá ficar sozinho.Ou essa leitura perfeita da situação, também pela Myla, conselheira das estrelas:
- Você não tem como saber.
- Na verdade, apesar de todos os seus esforços nessa sua produção independente de O barril de Amontillado em que você é tanto o Montresor como o Fortunato, tenho certeza de que vai encontrar o amor. Sabe, um bom amor.
- É que você está apaixonada por um fantasma dos anos 70 que vive no metrô e, mesmo assim, é exatamente a mesma história de sempre.essa mulher misteriosa, de jaqueta de couro & calça rasgada, que talvez seja um fantasma dos anos 70 preso no metrô, é a Jane, que está ali na capa com a August. além de ser uma gata quente punk, a Jane é uma estratégia ótima pra retomar as batalhas da causa LGBTQIA+ na gringa, que infelizmente parece passar batido pela nova geração (todo mundo quer reinventar a roda - tal & qual acontece aqui no Brasil, né?). esse combo de sedução, cotidiano na cidade, ativismo & mistério é o que carrega a trama. a gente se pergunta tanto se haverá um Final Feliz pra nossas garotas quanto que diabos aconteceu pra deixar alguém rodando na linha Q por mais de 40 anos sem envelhecer (uma vez que a cada vez que eu pegava o metrô em São Paulo envelhecia 5 anos) & se a grande Billy Panquecas sobreviverá a mais uma onda de gentrificação & que fim levou o tio desaparecido da August que a mãe dela busca sem parar desde antes dela nascer.
- Ela não é um fantasma, e não estou apaixonada - August diz, revirando os olhos. - O que você quer dizer?
- Quero dizer que você embarcou numa amizade homoerótica da garota sáfica. É tudo fofo no comecinho e então você começa a criar expectativa, e é impossível saber se o flerte de brincadeira é um flerte de verdade e se o abracinho platônico é um abracinho romântico e, quando se dá conta, três anos se passaram, você está obcecada por ela, e não fez nada em relação a isso porque morre de medo de foder com a amizade por causa de coisas da sua imaginação, então vocês trocam cartas de amor carregadas de tensão sexual mas sem jamais admitir isso, e assim vai até as duas morrerem. Com a diferena de que ela já está morta. - Ela ri. - Que doideira, cara.
então, se você gostou de A casa no lago & mas ao mesmo tempo achou muito heterotop & quer um romancinho gostoso pra chamar de seu, ei-lo. venha descansar seus olhos sofridos com uma Novela Dos Nossos Tempos em que a galera queer não é trancada no armário, não morre mortes horríveis nem serve de escada pra ninguém. (senti falta de alguém não-mono pra mostrar que a felicidade não está só no casal-de-almas-gêmeas-felizes-para-sempre, mas não se pode ter tudo.) ENFIM! 4/5, metrôs fedidos mas gatas cheirosas, gente desaparecida, sáficas safadas, panquecas, fitas cassete, investigações, drags fabulosas, festas com dorgas, sessões espíritas cômicas, chateações do jovem adulto, radinho de pilha & amor, doce amor juvenil.
eu morro um pouco mais de amor a cada resenha sua, mas essa valeu quatro flechas <3
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