última parada

  • autoria: Casey McQuinston
  • tradução: Guilherme Miranda
  • leitura concluída: ☆☆☆☆

    pensa numa comédia romântica fofa & queer, com viagem no tempo & panquecas abundantes & mistérios de desaparecimento & trilha sonora dos anos '70 & pegação no metrô. então. é esse livro.

    cheguei nele por indicação do querido GH, tradutor de best-sellers LGBTQIA+ (como Vermelho, branco e sangue azul & Estranhos no paraíso & Heartstopper) & amigo de tempos (quase) imemoriais, que me disse que, na cabeça dele, a protagonista era basicamente eu com vinte poucos anos (& ele sabe, pois Testemunhou). então desculpa qualquer coisa, mas a criatura bissexual de coque preso com lápis, óculos engordurado, dificuldade de pedir ajuda, quarto virado em caixa de papelão & cheiro de comida permanente soy yo hahhahah.

    pois então. no livro, eu a August acabou de se mudar pra Nova York pra terminar a faculdade & consegue emprego numa loja de panquecas antiquíssima, além de alugar um quarto num ap com as pessoas mais perfeitas imagináveis, um casalzão que combina a engenheira-escultora Myla & o médium-bartender-pai de planta Niko, mais o Wes, tatuador chateadão que tem um cachorro fofo & uma paixão reprimida pelo vizinho, o contador-dragqueen Isaiah/Annie Antidepressiva também fofíssimo. pra mim, o talento principal da Casey é criar personagens queridos demais, com corações enormes & diálogos impagáveis que GH traduz como se fossem nossos amigos também (caralho de asa! teje preso! bora dar uns pegas!). saca só esse entre a Myla e o Wes:
    - Não tem nada de errado em ficar sozinho. Muitas pessoas são mais felizes assim. Muitas pessoas nasceram pra ser assim. Mas não acho que você vá ficar sozinho.
    - Você não tem como saber.
    - Na verdade, apesar de todos os seus esforços nessa sua produção independente de O barril de Amontillado em que você é tanto o Montresor como o Fortunato, tenho certeza de que vai encontrar o amor. Sabe, um bom amor.
    Ou essa leitura perfeita da situação, também pela Myla, conselheira das estrelas:
    - É que você está apaixonada por um fantasma dos anos 70 que vive no metrô e, mesmo assim, é exatamente a mesma história de sempre.
    - Ela não é um fantasma, e não estou apaixonada - August diz, revirando os olhos. - O que você quer dizer?
    - Quero dizer que você embarcou numa amizade homoerótica da garota sáfica. É tudo fofo no comecinho e então você começa a criar expectativa, e é impossível saber se o flerte de brincadeira é um flerte de verdade e se o abracinho platônico é um abracinho romântico e, quando se dá conta, três anos se passaram, você está obcecada por ela, e não fez nada em relação a isso porque morre de medo de foder com a amizade por causa de coisas da sua imaginação, então vocês trocam cartas de amor carregadas de tensão sexual mas sem jamais admitir isso, e assim vai até as duas morrerem. Com a diferena de que ela está morta. - Ela ri. - Que doideira, cara.
    essa mulher misteriosa, de jaqueta de couro & calça rasgada, que talvez seja um fantasma dos anos 70 preso no metrô, é a Jane, que está ali na capa com a August. além de ser uma gata quente punk, a Jane é uma estratégia ótima pra retomar as batalhas da causa LGBTQIA+ na gringa, que infelizmente parece passar batido pela nova geração (todo mundo quer reinventar a roda - tal & qual acontece aqui no Brasil, né?). esse combo de sedução, cotidiano na cidade, ativismo & mistério é o que carrega a trama. a gente se pergunta tanto se haverá um Final Feliz pra nossas garotas quanto que diabos aconteceu pra deixar alguém rodando na linha Q por mais de 40 anos sem envelhecer (uma vez que a cada vez que eu pegava o metrô em São Paulo envelhecia 5 anos) & se a grande Billy Panquecas sobreviverá a mais uma onda de gentrificação & que fim levou o tio desaparecido da August que a mãe dela busca sem parar desde antes dela nascer.

    então, se você gostou de A casa no lago & mas ao mesmo tempo achou muito heterotop & quer um romancinho gostoso pra chamar de seu, ei-lo. venha descansar seus olhos sofridos com uma Novela Dos Nossos Tempos em que a galera queer não é trancada no armário, não morre mortes horríveis nem serve de escada pra ninguém. (senti falta de alguém não-mono pra mostrar que a felicidade não está só no casal-de-almas-gêmeas-felizes-para-sempre, mas não se pode ter tudo.) ENFIM! 4/5, metrôs fedidos mas gatas cheirosas, gente desaparecida, sáficas safadas, panquecas, fitas cassete, investigações, drags fabulosas, festas com dorgas, sessões espíritas cômicas, chateações do jovem adulto, radinho de pilha & amor, doce amor juvenil.

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