Relatos de um gato viajante

  • autoria: Hiro Arikawa
  • tradução: Rita Kohl
  • leitura concluída: ☆☆☆

    segundo livro do Leia Mulheres Curitiba de 2022! confesso não curto muito história sobre bicho porque muitas vezes cai num sentimentalismo sem fim, mas, quando o bicho é o narrador, o buraco é mais embaixo. tentar ver esse mundo tão violenta & intensamente humanizado em que a gente vive por outros olhos é um desafio que, quando bem encarado, abre caminhos incríveis. estou pensando aqui nos contos da Ursula K. LeGuin sobre "textos" escritos por formigas, ou no The bees, da Laline Paull.

    falar de animais também me faz pensar no pouco que a gente entende essas outras vidas que dividem o planeta com a gente, como o Frans de Waal exemplifica tão bem no Somos suficientemente inteligentes para saber quão inteligentes são os animais? (que acabou se sair aqui no Brasil com tradução de Paulo Geiger & uma capa maravilhosa), & a Donna Haraway problematiza maravilhosamente nos mil textos dela (estou namorando O manifesto das espécies companheiras, aiai, que também acabou de sair com tradução de Pê Moreira).

    além disso, pra quem não sabe, eu sou gateira. gateira de ficar caçando gato quando viajo (& acho um mau sinal quando uma cidade não tem gatos), de seguir perfil de gato no Instagram, de ver vídeo de gato pra relaxar, de dar colo pros meus gatos (senhores Frango & Conhaque) toda vez que eles pedem. porque se tirei eles da rua, penso eu, foi pra dar todo o amor que eu posso, né?

    enfim, pra esse livro eu estava simultaneamente predisposta a gostar, mas com o pé atrás. zero necessidade desse pé atrás, no fim das contas, porque a história é bem fofa & cumpre o que se propõe: ser um romance "leve", mas melancólico, pra gente meio rir, meio chorar & ficar pensando nas coisinhas do cotidiano por uma outra perspectiva, muito mais atenta. &, testemunho de gateira, achei a voz do gato muito parecida com o que eu imagino que os (meus) gatos pensam hahaha (meu conje, também gateiríssimo, concorda)

    como o título já adianta, o livro acompanha as viagens do gato Nana por diferentes cantos do Japão, enquanto ele acompanha o tutor em visitas a vários amigos. depois de ter conquistado o gato a duras penas, a gente fica intrigado de ver o Satoru aparentemente procurando alguém pra re-adotar o Nana, mas juro que ele tem o único motivo aceitável pra fazer uma coisa dessas (sou 100% fã do rei-gateiro Jackson Galaxy que diz que adotar é assumir um compromisso pra toda a vida, se é pra ser um forever home, tem que ser forever). gostei muito de como o olhar do gato sobre as paisagens, eventos, pessoas & paradas que eles fazem vai se revezando entre o cômico & o lírico, mas, como não sou muito da fofura, às vezes ficava meio éééééér.

    assumo que chorei rios em uma parte em que o Nana relembra as coisas lindas que viu & viveu, mas não porque aconteça alguma coisa horrível com o gato (dels me livre), mas porque me fez lembrar de um gatinho querido que adotei doentinho & que, apesar de muitos esforços, não consegui fazer melhorar. meus amigos me dizem que ter trazido o gato Marechal pra dentro da minha casa & ter dado todo o carinho que eu dei fez ele ter uma (breve) vida muito melhor do que teria num abrigo, na rua, ou mesmo com outros tutores. mas, ainda assim, eu queria que ele tivesse a longa vida de paxá que estou proporcionando pros outros dois senhores com quem vivo há 14 anos:



    em resumo: 3.5/5! fofura! sarcasmo! melancolia! lembranças de infância! orfandade! TVs de tubo! monte Fuji! amigos! xaxê de frutos do mar! caixas de transporte! hierarquia! mil cheiros! o mar! arranhões! rabos inquietos! leitura obrigatória para gateiros!

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