a porta

  • autoria: Magda Szabó
  • tradução: Edith Elek
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆

    livro de maio do Leia Mulheres Curitiba! terminei de ler no dia do encontro, cheguei & saí desarvorada & pensando muitos pensamentos & até agora sigo digerindo esse banquete húngaro que entrou na lista de favoritos da Ferrante.

    a narrativa é sobre a relação entre duas mulheres com perspectivas, experiências, expectativas & visões de mundo muito diferentes: uma escritora intelectualíssima cujo nome a gente só descobre aos 46 minutos do segundo tempo & a mulher que cuida da casa (& da vida) dela & é nomeada insistentemente a cada duas páginas, Emerenc. tudo que a escritora tem de enrolada & indecisa & reticente, a Emerenc tem de prática & decidida & direta. o afeto que vai crescendo entre elas é bruto & brutal, com memórias & acontecimentos & segredos se desvelando tipo quando a gente abre a cortina numa manhã de sol: por mais que faça devagarzinho, quando a luz entra, é de um golpe só.

    olhando com um olhar Ferrantístico, dá pra ver aqui muito do que ela faz com a Lenu & a Lila, que são amigas de uma amizade longe de qualquer idealização, cheia de altos & baixos, problemas de comunicação & tretas sem fim, porque pessoas fazem pessoices (quanto mais de perto, mais forte o abraço, mas também mais funda a facada, né?). aliás! a escritora-narradora, muito Lenuísticamente, está na história basicamente a serviço da Emerenc, que é uma Personagem com P maiúsculo, gloriosa & terrível, que merece entrar em qualquer cânone. assim como a gente quer saber mais da Lila, conhecer a magia que ela tece em primeira mão & ler o que ela escreve & entender o que ela pensa, em A porta fica a vontade de acompanhar nem que seja um dia na vida da Emerenc, entender os pesos & medidas por trás das decisões que ela toma, conhecer as verdades & os quereres. mas! tudo que a gente tem é o filtro do filtro do filtro, que só serve pra aumentar o poder da magia. um exemplo do tipo de coisa que ela diz:

    - As pessoas que não a conhecem nem imaginam o quanto a senhora não bate bem - continuou Emerenc -, apesar de eu repetir isso para a senhora. A senhora pensa que a vida é eterna e vale a pena que seja assim, que sempre haverá alguém para cozinhar, limpar a casa, e uma travessa cheia, e papel para rabiscar, e um patrão para amá-la, e que viverão para sempre, como em conto de fadas, e que nunca terá nenhum problema a não ser falarem mal da senhora nos jornais, o que é uma desgraça terrível, mas então por que escolheu esse trabalho tão deplorável, que qualquer pessoa que fique zangada pode cobri-la de lama? Não sei como a senhora ficou famosa, porque não tem muita coisa na cabeça, não sabe nada sobre as pessoas.

    ENFIM! 5/5 sem qualquer sombra de dúvida, perfeito pra desgraçar qualquer cabeça. aqui tem: portas trancadas, controle & descontrole, temporais, cofres, gatos, raios, lápides, marmitas de amor (vulto travessas de comadre), segredos, prêmios literários, amizades & afetos crus, um cão chamado Viola, neve, bate boca, árvores dançando, guerra, acolhimento, suicídio, mandonices.

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