que alegria ter tido coragem de ler esse livro. a gente (eu, no caso) sempre fica com o cu na mão quando vai ler esses delses das suas respectivas áreas porque parece que todo mundo já leu menos a gente (eu, novamente). dá medo de tentar ler & não entender nada & cair num poço de impostorice sem fim. MAS! grata surpresa, o texto é super acessível, graças ao combo de uma linha de pensamento muito clara por parte do Vigostki + uma tradução cuidadosa & cheia de pesquisa da Zoia Prestes e da Elizabeth Tunes (& uma edição impecável da Expressão Popular).
partindo da análise das criações & produções de milhares de crianças da União Soviética, mais o embasamento prático & teórico de vários outros pedagogos, artistas & psicólogos do período, o Vigostki propõe a ideia de que criação & criatividade não são exclusivas de gênios incríveis, 1 em 1.000.000, mas fazem parte do nosso cotidiano, embasando nossas reflexões & ações para lidar com os perrengues do dia a dia. num mundo perfeito, não haveria necessidade de criar, porque todos os anseios seriam satisfeitos imediatamente.
ele também ressalta que a criação não acontece num vácuo de originalidade graças à invocação das musas ou afins, mas é um desdobramento dos repertórios que vamos construindo também no dia a dia, num processo de reelaboração. até as invenções & narrativas mais "únicas" conversam com invenções & narrativas anteriores, nem que seja numa relação de contestação. assim, pensando pedagogicamente, é essencial ampliar ao máximo as experiências das crianças para que elas sejam capazes de criar o máximo possível dentro das suas potencialidades.
& mais! ainda quanto às crianças, o Vigostki vai contra a noção generalizada de que elas imaginam & criam mais que os adultos (como poderiam, se elas tiveram menos experiências & portanto têm menos repertório?). para ele, todos, crianças, adolescentes, adultos & idosos têm a potência de criar & muito! mas, ao longo do tempo, o desenvolvimento intelectual faz com que a gente vá acreditando & confiando cada vez menos nas nossas soluções criativas. assim, a gente acaba expressando menos as ideias que temos & parece que a imaginação está definhando. SÓ QUE NÃO!
a gente só está criando em outros âmbitos & pra outras situações. exemplo: as crianças pequenas geralmente desenham muito, porque é uma forma acessível de expressão; os adolescentes vão perdendo o interesse pelo desenho porque percebem as falhas técnicas como obstáculo à expressão & tendem a buscar a escrita para suprir essa necessidade (daí os diários, poemas, quadrinhos etc.). os adultos, então, estão resolvendo mil tretas de trabalho & necessidades diárias & afins, portanto, no geral, não rola muito tempo nem vontade de desenhar ou escrever: a potência criativa está sendo usada pra outros fins.
fora isso, ainda aparecem uns exemplos muito interessantes da educação soviética, em especial quanto aos círculos infantis & clubes dos pioneiros, que eram basicamente atividades fora do horário escolar em pequenas turmas, das quais as crianças & adolescentes podiam participar de acordo com os seus interesses (por exemplo, em construção, pesquisa científica ou costura). essas práticas eram totalmente não-escolares, pois não havia avaliações nem certificações nem uma ideia de "formação": eram aprendizado prático & ampliação de experiências.
enfim! pra quem curte educação ou pensar sobre criatividade, é um livrinho-livrão, 5/5 (:
Comentários
Postar um comentário