o feiticeiro de terramar

  • autoria: Ursula K. LeGuin
  • tradução: Heci Regina Candiani
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆

    o que a Ursula faz ninguém faz igual & ponto.

    olha só isso aqui: era uma vez um pobre órfão que descobre ter poderes mágicos & é enviado para uma escola especial para estudar feitiçaria & lá descobre ser particularmente poderoso & faz amigos & inimigos, além de enfrentar uma força maléfica tenebrosa que ameaça acabar com ele & todo o resto do mundo 👀 mas o Ged não é o Escolhido nem está a fim de ser herói de nada, só quer se livrar de uma sombra que é a hubris dele encarnada - quem nunca, né?

    além da jornada do herói de um herói que não está a fim de ser herói, a Ursula ainda faz todo um paranauê de linguagem que, ah, a linguista que habita em mim saúda de joelhos. num mundo em que fazer mágica é nomear & que ter poder é saber usar a palavra certa na hora certa, aquilo que é inominávevel & vem de um lugar onde não há nomes é o que há de mais terrível. & o que há de mais belo é o Grande Nome, claro:
    Todo poder é um só, na origem e no fim, creio. Anos e distâncias, estrelas e velas, água, vento e feitiçaria, a arte na mão de um homem e a sabedoria na raiz de uma árvore: todos surgem juntos. Meu nome, e o seu, e o verdadeiro nome do sol, ou uma fonte de água, ou uma criança não nascida, todos são sílabas da grande palavra que é falada muito lentamente pelo brilho das estrelas. Não existe outro poder. Nenhum outro nome.
    ENFIM! foi um deleite cruzar a Terramar que a Ursula traçou lááá nos anos 60, quando fantasia & sci-fi escrita por mulheres era tudo mato, ainda mais com essa tradução cristalina da Heci Candini, que tem um respeito pelos mundos leguinianos que só faz Terramar crescer mais & mais. & ainda: essa edição ainda tem uns paratextos da própria Ursula em que ela reconhece a ausência assustadora de mulheres nesse primeiro volume do Ciclo Terramar & já acena que logo mais adiante a gente vai lidar com isso lindamente. aiai.

    (inclusive: já na expectativa do segundo volume - As Tumbas de Atuan. a Morro Branco está arrasando demais com essas edições chuchuzinhas em capa dura & com ilustrações do Charles Vess... nossa senhora da pré-venda me ilumine.)

    aqui tem: bildungsroman, magia, dragões, barcos encantados, pobreza, inveja, amizade, velhos sábios, o poder das palavras, fuga, sombras, natureza, duelos verbais, órfãos, amizade, cantigas cantadas em praias distantes.

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