peaces

  • autoria: Helen Oyeyemi
  • leitura concluída: ☆☆☆☆

    sabe quando você termina um livro & fica com a impressão de que ele foi escrito sob influência de um forte psicotrópico? ou quiçá o próprio livro é um forte psicotrópico sob cuja influência você está? é só assim que a Helen Oyeyemi escreve. (recomendação da minha mina Carmen Maria Machado, por sinal.)

    ela me arrebatou & virou de ponta cabeça com os contos do What is not yours is not yours & apesar de ter ficado meio assim-assim com os romances Gingerbread & Mr. Fox, ainda acho que todos os textos dela têm alguma coisa deslumbrante. em parte por causa das tramas, originalíssimas & ao mesmo tempo um remelexo de tropes & tradições (& cheia de queers vigaristas, meu gênero favorito). mas acho que o apelo principal vem de como ela usa a linguagem, das tiradas dos personagens, das vozes narrativas que vão enfeitiçando a gente. olhem só o nível de sedução:
    One morning she asked if I was OK with her recording my busking. I said I was, but that I didn't want her to put it online or anything. She told me she needed the recording so that she could compose for me. Compose for me!

    I didn't see her for a couple of weeks; then she came and gave me what she'd written: an untitled, spinning-top sort of sonata that slowed down into a arch, darting, aching minuet. I was a bit scared to play that in public and wondered if that was how Prince had felt about performing sometimes. It felt like people mgiht get pregnant just from listening to this. Men, women, everybody...

    aiai, essa mulher.

    pois bem, em Peaces, uma dupla de recém-casados não casados, Otto (hipnotizador) & Xavier (ghostwriter), acompanhados de seu mangusto de estimação Árpád viajam numa lua de mel-não lua de mel a bordo de um trem misteriosíssimo chamado The lucky day. a viagem acontece a convite da dona do trem, gata quente & virtuose do teremim Ava Kapoor, que está em vias de receber uma herança poupuda - isso se ela conseguir passar em um exame de sanidade mental no dia em que completar 30 anos (eu mesma não sei se teria passado).

    a bordo ainda estão Laura (recém-saída da prisão) & Allegra (que compôs a música engravidadora do trechinho ali em cima), que se revezam conduzindo o trem & tentando manter a sanidade da Ava por diferentes motivos. ah, também tem a mangusto (mangusta?) de estimação da Ava, Chela. mais um sujeito misterioso que pode ou não ser alguém/alguéns do passado de toda essa galera. pensa no teu pior ex. bem esse aí. pensa nele fechado com você & teu novo amor num trem, que é ao mesmo tempo bolha que isola & flecha que leva pra todos os lados. com adicional de um negócio estilo retrato de Dorian Gray. então. é isso que a Oyeyemi escreve.

    aqui tem: amantes & amor, gente invisível, quadros sinistros, incêndios nada acidentais, desejo, compositoras sedutoras, aquele ex detestável, heranças, música, cuecas com os dias da semana, um bazar, quero morrer nos seus braços, chá, mangustos apaixonados, fluidos corporais por todos os vagões, rabanadas, todo mundo é gay.

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