urso

  • autoria: Marian Engel
  • tradução: Berttoni Licarião
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆

    então que um dia vi a Michelle divulgando a campanha de financiamento coletivo para a primeira edição desse livro & fui investigar qualé & descobri que minha mina Atwood achou ele "estranho e maravilhoso". aí não tinha como não apoiar & ficar esperando ele chegar, né?

    & chegou & li & vim aqui testemunhar que estranheza & maravilha realmente definem a história.

    nessa narrativa bem curtinha, a gente acompanha a Lou em uma viagem de trabalho. ela é uma arquivista enviada para uma ilhota particular isoladíssima para catalogar uma biblioteca doada para o instituto histórico que é a firma dela. pra ela (& pra mim), parece o trabalho dos sonhos: ficar sozinha num lugar lindo, cercada de livros & notas misteriosas, nadando pelada & tomando sol nas horas vagas.

    mas é claro que um livro que até a Atwood achou bizarro não ia ser mó paz, né? pois bem: a família que construiu a casa mantinha ursos de estimação num galpão há gerações. portanto, a ilha não é tão solitária assim. esse combo de isolamento + convivência com o urso serve de estopim pra mil coisas dentro da Lou, que repensa sua relação com o cotidiano, com a história canadense, com os homens, com o trabalho & conclui que ela estava "vivendo uma vida que poderia ser considerada ausente de vida". (quem nunca?)

    foi muito fácil me identificar com a Lou pensando pensamentos como esse:
    Perguntava-se com que direito estava ali, e porque escolhera viver daquele trabalho. E quem ela era.

    Esses dilemas geralmente surgiam algumas semanas após o início de uma tarefa mais imersiva, mas dessa vez haviam se manifestado mais cedo, asssim que ela conseguiu esbelecer uma rotina de trabalho. Compreendia - tecnicamente e até mesmo emocionalmente - a necessidade de redefinir objetivos, mas não conseguia entender por que o período de redefinição precisava ser acompanhado de uma crise depressiva, um grito existencial dentro de si e uma voz interior estridente que questionavam não o projeto em que estava trabalhando, mas sua própria existência. "O que estou fazendo aqui?" ela se perguntava, e a voz interior ecoava: "Quem diabos você pensa que é, como se atreve a estar aqui?"

    além disso, a linguagem é toda muito direta & límpida, não tem mistério nem distanciamento algum entre o nosso olhar & o olhar da Lou. bem por isso, dei graças a nossa senhora da privacidade por não estar lendo em lugar público, porque não há poker face possível quando você está acompanhando uma protagonista tão próxima de você ficar também muito, muito, muito próxima de um urso.

    enfim! aqui tem: paixão por livros, isolamento, eu sou meu trabalho?, história canadense, mulher se virando sozinha, mitologia, povos originários, horta frustrada, reflexões sobre a vida o universo & tudo mais, turistas malditos, pesca, hot com urso (!)

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