
imagine: eis, no futuro próximo, os primórdios da tecnologia da viagem no tempo, sob controle de burocratas ingleses. pra não arriscar o próprio pescoço testando, a galera espertamente decide "resgatar" pessoas a beira da morte em diferentes momentos do passado & trazer pra agora, onde podem ser observadas, testadas, examinadas etc. se elas morrerem, tanto faz, já era pra estarem mortas mesmo. viagem no tempo no cu dos outros é refresco, né?
nesse rolê, nossa protagonista-narradora sem nome tem a função de acompanhar uma dessas almas do passado, chamadas não-ironicamente de "expatriados", fazendo mil relatórios & ajudando na adaptação como possível (o trabalho de "ponte"). & por quem ela é responsável? um dos marinheiros do Terror, navio congelado-entalado numa expedição no Ártico em 1845 (história maravilhosamente explorada numa série de 2018, 5/5, recomendo).
& aí? & aí que não bastando a treta histórica, ética & política de um trabalho desses, ela vive uma tensão étnico-racial interna absurda (a mãe fugiu do Camboja depois de testemunhar horrores & ela tem dificuldade em se entender como "mixed-race"), o que desperta um desejo duplo de controle & de se esconder por dentro das engrenagens do imperialismo. além disso, claro, ela se apaixona pelo marujo vitoriano. (quem nunca?)
achei divertido, inteligente, intrigante, com o romance bem construído & umas reviravoltas muito boas mais pro final. um dos pontos altos é a Margaret, uma das expatriadas, lésbica medieval resgatada de um surto de peste negra, com um humor maravilhoso - eu leria uma continuação só com ela tranquilamente.
aqui tem: tempo tempo tempo, navegar é preciso, espiões, tensão sexual, morte, ciência misteriosa, filhos de imigrantes, paradoxos temporais, tradutores, colonialismo & anticolonialismo, cigarros, o poder da linguagem, milicos, solidão, lésbicas medievais, bissexuais em abundância, trauma, risos nervosos, tecnologia ou magia?, jogos de poder, slow burn




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