o fim da morte

  • autoria: Cixin Liu
  • tradução: Leonardo Alves
  • leitura concluída: ☆☆☆☆

    enfim terminei o último livro da trilogia sci-fi espacial filosófica niilista humanos-são-uma-bosta-ou-talvez-não do Cixin Liu (já falei dos outros dois aqui, pra quem quiser ter uma visão geral da história). em resumo: QUE LOUCURA. apesar de ter feito a cara do meme da Nazaré pensando em cálculos mil vezes ao longo da leitura, no fim das contas, os conceitos científicos eram só um espirro perto do embróglio psicológico-social que rolou. & isso tudo considerando que eu achei que o segundo livro já tinha fechado a história de um jeito ótimo, sem necessidade de ampliar ou desdobrar qualquer coisa. mas, vejam só, ainda tinha muuuito pano pra manga.

    é difícil pensar no que escrever porque tudo é spoiler no fim de uma série, né? mas sinto que tenho que falar alguma coisa porque esse final levanta a história pra Outro Patamar. a gente continua na vibe "o espaço é um lugar socado de outros seres & a Terra é particularmente apetitosa & não sei se os humanos mereceriam esse paraíso mais do que qualquer outra criatura", mas as consequências das escolhas feitas por indivíduos & comunidades & organizações representando o "bem comum" vão pra uns caminhos totalmente inesperados. tem criação de cidade subterrânea & cidade espacial, belonaves(!) & botes(!!) interplanetários, tecnologia nas mãos certas & erradas, geral se mudando pra Austrália(!!!), hibernação de gente que quer pular a parte chata do plot, um acelerador de partículas ao redor do sol (!!!!), discussões de como criar um museu que dure bilhões de anos com solução inesperada & umas partes louquíssimas de visitar "bolhas" de mais (& menos!!!) de três dimensões. pra quem achou Flatland/Planolândia louco, espera até ver o que rola aqui 👀.

    o defeito maior dos livros anteriores, que eram os personagens rasos & estáticos demais diante de situações limítrofes incríveis, é amenizado um pouco (pero no mucho), com protagonistas que parecem refletir sobre & se arrepender (ou se negar a se arrepender) das suas ações. mas, o que achei bem pior, é que rola um papo bizarro de alienígenas tentando manipular a humanidade pra ficar mais "feminina" &, por consequência, mais "fraca", incluindo uma figura materna escolhida pra posição de poder no lugar dos sujeitos durões. oi? q? tipo, sério? misoginia até em seres que NÃO têm dimorfismo sexual? sei que dá pra pensar que era uma leitura deles da nossa cultura, mas ainda assim, ARGH & HMPF. a LeGuin rola na tumba com esse lero-lero & eu bato com meu pau, digo, com meu exemplar de A mão esquerda da escuridão na mesa.

    em compensação, tem uma parte maravilhosa que parece ter sido feita sob medida pras minhas loucuras particulares, que é quando um sujeito tenta passar uma mensagem codificada que os alienígenas não entendam & pra isso usa a estratégia mágica & milenar de criar contos de fadas(!). tem metáfora dentro de metáfora dentro de metáfora & uma equipe multidisciplinar de escritores & físicos & outros cientistas & teóricos literários & o escambáu tentando entender qualé. inclusive, assim que terminar esse texto vou caçar interpretações pra ver se eu entendi tudo que tinha pra entender (tento escrever os textos do bloguinho bem crua: acabo de ler & corro aqui).

    mais pra frente, ainda tem participação especial do meu mino!
    Cheng Xin não era especialista em física teórica na época, mas sabia que, pela teoria das cordas, o espaço, assim como objetos materiais, era composto por muitas cordas vibratórias microscópicas. Van Gogh havia pintado essas cordas: em seus quadros, o espaço - como montanhas, trigais, casas e árvores - era cheio de vibrações diminutas. Noite estrelada marcara para sempre sua mente, e ela ficou impressionada de ver o quadro de novo quatro séculos depois, em Plutão.
    com esse último volume, subo a nota da trilogia pra 4/5 & podia até rolar um 5 não fosse aquele negócio misógino ali em cima. então, se estiver a fim de fazer uma viagem aos trancos & barrancos pelo cosmos, ler uns contos de fadas doidos, ver uma mulher ganhar uma estrela de presente de um admirador secreto, acompanhar uma robô alienígena(!) fazendo a cerimônia do chá(!!) & lutando com uma katana(!!!), pensar num ambiente quadridimensional, acompanhar um cérebro ser lançado no espaço sideral, desvendar estratégias de ataque & defesa que envolvem galáxias inteiras, ver como o ser humano é menos que um grão de areia na Grande Visão do Universo & talvez isso seja para o melhor, pode embarcar.

    saudades dr who


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