o amor dos homens avulsos

  • autoria: Victor Heringer
  • leitura concluída: ☆☆☆

    que difícil dar nota pra livro que a gente não sabe bem se gostou. fiquei mudando esse aqui de 2 pra 3 pra 4 pra 2 pra 3. achei um livro ruim? de modo nenhum. certeza que não é 1. é uma meditação sobre amor perdido, todo delicado & bruto & cheio culpa & desejo. agora repensando, me pergunto: será que não gostei dele mais do que acho que gostei? será que esse não é um 4?

    se eu comparar com meu último 4, o O som do rugido da onça, vejo que não gostei igual. me dá quase vontade de desistir de isso de nota. mas se agora eu já não sei bem o que achei, pensa só daqui 1 mês ou 1 ano. a nota faz parte da impressão de agora & é isso. mais do que qualquer nota, que é só a bandeirinha no topo do mastro, espero que você, leitor que prefere por escrito, me acompanhe aqui na viagem inteira. vai que o livro é pra você? ou mesmo pra Kelly do futuro, que pode estar mais sensível pra esssa história em 2025? me dá horror a ideia de dizer se um livro vale ou não a pena (como já vi em muita chamada de booktuber/toker). quem sou eu pra dar uma dessas? quem é você? ENFIM. venham comigo: viver é preciso, resenhar não é preciso.

    pra começar: esse romance é um Romance, no sentido de uma História de Amor. nosso narrador é um senhor que já tem três vezes a idade que tinha quando perdeu o primeiro amor. toda a vida dele gira ao redor dessa perda & de outras perdas & de uns poucos achados & guardados. também tem um toque de reflexão social, sobre culpa & transmissão de culpa, vingança & perdão, comunidade & isolamento. mas o centro é este: Camilo amou Cosmim com o amor que a gente só tem na adolescência, & quando o sol se pôs sobre eles, não nasceu mais.

    o que não amar numa história assim? não sei. talvez eu tivesse Expectativas maiores (o Heringer me foi muito bem recomendado & também me deixa triste que ele não tenha vivido mais tempo para poder escrever mais, muito mais). talvez as coisas que ando lendo & assistindo que se aproximam tematicamente tenham me tocado mais. talvez as estratégias de linguagem & narrativa que são centrais (& que vi muito elogiadas) nem sempre funcionem pra mim (a lista de pessoas que se amam, por exemplo, tipo quadrinha do Drummond - não curti; a dos colegas de escola, mais ou menos). mas também não tem como não amar uns momentos brilhantes em narrativa, estrutura, reflexão, delícia, que amarram & complementam tudo que está ao redor. olhem só isso, como resposta a um assassinato:
    Sabe o homem de Boskop? Era um parente nosso que viveu há uns dez mil anos na África. Era mais inteligente que nós, o cérebro era maior, os dentes eram menores. O homem de Boskop era o homem do futuro. Nós matamos o homem de Boskop. O Homo sapiens matou o homem de Boskop. Dez mil anos atrás, nós matamos o homem do futuro. Por quê? Porque sim! Que o planeta seja deixado às outras raças, as outras raças não precisam de consolo. Nós estamos exaustos. Só uma espécie cansada inventa o carro-forte, o telemarketing e a plástica no nariz. E é tarde demais para morrer com elegância. Que o urubu-rei assuma o trono da presidenta desta república, e com ela vamos todos para a vala.
    então, sim, sim, vale a pena ler esse livro (& todos os livros). 3/5! aqui tem: poeira, moleques, cozinheirxs de mão cheia, os pecados do pai, suor, bengala, antiguidades & bijuterias, beijos beijos beijos, violência, ditadura, homofobia, ex-senzala, boletins guardados, sol, mistérios pros quais ninguém tem resposta, grávidas abandonadas, um menino que ama & é amado por outro, paus de canela, cobras, masturbação comunal, crianças sem família, febre.

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