el año de la rata (o ano do rato)

  • autoria: Dr Alderete + Mariana Enriquez
  • leitura concluída: ☆☆☆☆☆

    dizer que eu falo espanhol, que eu leio espanhol ou mesmo que eu entendo espanhol é um exagero. eu luto com o espanhol, com meu coração em uma mão & um dicionário na outra, porque o mercado editorial brasileiro nem sempre publica com agilidade as maravilhas que os hermanos (& especialmente as hermanas) escrevem. se a escolha é entre ler mal ou não ler, minha opção é a primeira. me jogo contra o tijolo de cristal do Cortázar na expectativa da tradução aparecer ali na esquina & me salvar, sempre.

    & foi assim que eu me vi caçando esse volume de ilustrações + textos feito em parceria pelo mexicano Alderete & a delsa dark de minha devoção, a argentina Mariana Enriquez (autora da obra-prima de sangue & amor & horror cotidiano nuestra parte de noche), sendo mal-entendida em Buenos Aires por um livreiro pra quem o meu R em rrrata simplesmente não registrava.

    dramas linguísticos à parte, esse livrinho pandêmico é uma leitura rápida & rasteira: com base nas imagens que o Alderete enviava, a Mariana foi escrevendo textos curtinhos (que ela domina como ninguém) que retratam um mundo com alienígenas gostosas com poderes telecinéticos, moda COVID-fetichista, uma trupe itinerante sinistra, museus ainda mais sinistros & máscaras de todo tipo.

    em uma entrevista, o Alderete disse que ficava absurdado (tradução livre minha, claro) com as coisas que a Enriquez bolava partindo as imagens dele. & olha, as imagens são até interessantes, com as cores fortes & brutas preenchendo os traços também fortes & brutos, mas nas mãos de outra pessoa podia facilmente cair num male gaze enfadonho. dá pra ler nas linhas & entrelinhas o esforço disruptivo da Enriquez de quebrar qualquer expectativa que a gente poderia construir em cima de desenhos de modeletes em verde & rosa emanando raios pelos olhos. tudo que podia ser fraqueza ela transforma em força; tudo que é comum, em incomum; tudo que é erótico, em perturbador. & nas imagens mais sinistras, então! ela brilha, brilha, brilha (como uma pepita de césio esquecida num lixão, claro).

    pelo combo todo, eu daria 4 estrelas, mas pelas peripécias da Enriquez, nooootaaaa ceeeeem (ou seja, 5/5): alienígenas, dildos, sereias, superpoderes, látex, pandemia, monstras, monstros, estátuas, luzes, escuridão!

    (& pra quem quiser ver mais imagens & uns trechinhos dos textos, tem esse vídeo da editora Libros del Zorro Rojo que dá uma palhinha!)


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